Estou começando hoje a trazer aqui neste espaço do Blog informações e debates sobre novas formas de conceber o cuidado, bem como de acolher e ajudar aqueles que sofrem. Quer me acompanhar? Será muito bem-vindo(a)! Vamos começar de maneira mais ampla, discutindo as várias maneiras de ver e entender o Mundo que nos cerca. Aos poucos chegaremos à esfera do Cuidado com o Outro.
Pois é, estamos no limite entre antigas e limitantes concepções, também chamadas cartesiano-materialistas e novas concepções da realidade. Mais do nunca, a ciência contemporânea está prestes a atravessar tal limite, inclusive já vislumbrando novos cenários, que apontam para um universo multidimensional e quântico – aos poucos vamos nos aprofundar sobre estes termos aqui. Alguns campos do pensamento científico já têm conseguido tangenciar novas concepções, abrindo caminho para novas teorias, novos conceitos, novos paradigmas, novas ciências que perscrutam o Universo – a chamada Cosmologia ou Ciência Cosmológica.
Hoje estamos vivendo um encontro epistemológico profundo entre a filosofia dos antigos pensadores – Hermes Trimegisto, Platão, pré-socráticos e Sócrates – passando pelas ciências clássicas e chegando até as novas ciências, ou ciências emergentes, como a nova física, a nova cosmologia, a nova biologia, a nova medicina, que confluem para a concepção de uma nova consciência.
Quem sabe já estamos na direção de integrar conhecimentos das antigas civilizações, da medicina oriental e ocidental, do estudo sobre o psiquismo e da espiritualidade. Não faltam exemplos, como a Medicina Integrativa, a Homeopatia, a Acupuntura, a Constelação Familiar, aqui incluída a Terapia Transessencial, da qual ainda falaremos muito por aqui.
Acredito plenamente que nós, profissionais do cuidado, sejamos médicos, psicoterapeutas e demais terapeutas, deveríamos ampliar nossa visão, para nos tornarmos mais abertos para esse enorme cabedal de conhecimento, de forma a incluir em nossas práticas estas poderosas opções de caminhos terapêuticos, para assim melhor entender e aliviar o sofrimento humano.
Busca da integração entre a ciência, filosofia e espiritualidade
No meu caso pessoal, desde muito jovem vivo uma enorme inquietação, que identifico como uma busca incessante pelo conhecimento. Assim, tenho buscado integrar a ciência, a filosofia e a espiritualidade, através de leituras, simples curiosidade e muita reflexão. Minha vida caminhou nessa direção, com os projetos que tenho desenvolvido na área da saúde mental, os livros que escrevi e também a minha inserção profissional no Núcleo de Estudo sobre a Ciência, Arte, Filosofia e Espiritualidade (CAFE) pertencente ao Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) da Universidade de Brasília.
Isso representa para mim uma junção, uma integração de fronteiras, que aponta para um conhecimento totalizante, a reconhecer a humanidade e todas as coisas no Universo como pertencentes a uma mesma substância essencial, uma essência que a tudo conecta. Relembro aqui o dito fundamental dos estudiosos dessas novas concepções: tudo está conectado, sendo esta a chave do pensamento contemporâneo mais avançado. Esse salto de concepção e de visão da realidade vai além dos limites da matéria visível, do tempo e do espaço, tal como os conhecemos até agora, facultando compreendermos melhor a matéria e energia, inclusive sua variedade escura – e por aí a fora.
No campo das neurociências, os pesquisadores têm se debruçado sobre o estudo da consciência. Eles afirmam que a consciência humana transcende a fronteira das funções neurofisiológicas e psíquicas, e que não está limitada à caixa craniana. Nesse pensamento, ainda em processo de desenvolvimento, as fronteiras precisam ser desbravadas, e assim o ser humano passa a ser entendido em sua multidimensionalidade e ao mesmo tempo em sua individualidade. É um paradoxo isso, falar de uma coisa que é ao mesmo tempo individual e multidimensional. É preciso, assim, reconhecer na nossa natureza a diversidade e a multipotencialidade, o que nos permitiria vislumbrar as necessárias complementaridade e colaboração entre todas as coisas e todos os seres existentes. É preciso lembrar sempre, segundo os novos estudiosos da evolução da espécie humana, que foi a colaboração que proporcionou a sobrevivência de nossa espécie no Planeta Terra. Afinal, não somos os viventes mais resistentes e nem os mais fortes, mas foi através da cooperação, da proteção grupal dos mais fracos e vulneráveis, que pudemos sobreviver como espécie.
Estimular e participar desse intercâmbio universal entre as fronteiras do conhecimento, é colaborar na evolução pessoal e coletiva da humanidade. Esse é o mote, que considero primordial dos novos paradigmas em construção.
Por que não rompemos os limites da concepção materialista-mecanicista?
Somos uma geração de transposição e de superação dos limites. Nossos filhos e netos possivelmente já carregarão em suas consciências a visão dessa nova maneira de entender o mundo e perceber a realidade. O convencional eu acredito que já não satisfaz, mas as inovações, o inédito e a nova forma de pensar ainda está em formação. Por isso, infelizmente, encontramos resistências nos focos de pensamento de fundo mecanicista, das pessoas que insistem em se manter nos círculos fechados da realidade conhecida e aprisionados num mundo de dimensões limitadas.
Por que, então, existe a insistência nos modelos antigos que não tem dado conta de superar o sofrimento humano? Por que a humanidade se mantem limitada, quando há um mundo incrivelmente ampliado e luminoso a descortinar?
O Mito da Caverna de Platão, é um exemplo metafórico que reflete a dificuldade humana de ampliar sua consciência e galgar novos horizontes existenciais. Esse mito representa uma questão existencial profunda. Vou explicar: os seres humanos às vezes “preferem” permanecer no escuro do fundo da caverna, presos às correntes e enfeitiçados pelas sombras manipuladoras da ilusão, do que se arvorar a caminhar em direção à luz. A pergunta que me faço e, acho que muitos também fazem é: que força afinal faz essas pessoas permanecerem na escuridão, no fundo da caverna, mantendo-se em percepção limitada, enquanto o sol brilha lá fora?
Quão atual é esse mito! Será que ele não estaria simbolizando no homem pós-moderno a frustração e a insatisfação com a realidade? Será que não está justamente falando da nossa ilusória prisão existencial? É interessante que, mesmo com todos os avanços da ciência e das facilidades de interação e de comunicação entre os povos e mentes, ainda grande parte da humanidade esteja imersa em tal limitação existencial.
O que será que mantém os grupos humanos amarrados nas correntes que limitam os sonhos, a evolução pessoal, a consciência da plenitude? A resposta parece ser óbvia: o medo! Medo de descobrir a luz que na verdade não está fora da caverna, mas sim dentro de cada um!
O modo de pensar mecanicista – adotado preponderantemente como meta da ciência entre os séculos XVII e século XIX, e ainda hoje, pretende oferecer toda a segurança, o conforto e o poder ao homem moderno, que ignoram seus horizontes multidimensionais. Oferece as ofertas materialistas da sociedade como o único porto seguro para sua sobrevivência. Pensam que abrir mão deste pilar material – para o homem a única segurança –, põe em risco sua vida e a integridade de seu ego, que é apenas apoiado na densidade da matéria e no gozo do poder e da vaidade, obtidos pela competição irrestrita e predatória. Daí o medo, daí as pessoas se apegarem só àquilo que se pode palpar, a padrões individualistas, ao egoísmo e à alienação.
Voltando ao paradigma materialista-mecanicista, penso que este já não responde mais às nossas inquietações e as dos pensadores dos novos tempos. O que estamos esperando, então, para assumir uma nova forma de pensar e de agir? O filósofo da ciência Ervin Laszlo afirma que um paradigma na ciência é “o fundamento, as vezes tácito, mas sempre efetivo, da maneira como os cientistas concebem o mundo, inclusive concebem as pessoas, os objetos e tudo que eles investigam”.
O paradigma dominante representa a “cor dos óculos da ciência”. Com esses óculos, todas as conclusões são possíveis, desde que tenham em comum a mesma cor da lente utilizada pelo mundo científico. Tem que seguir a cartilha do paradigma vigente ou então não é visto como ciência.
As mudanças históricas na ciência têm aos poucos cedido lugar a uma transição, considerada por muitos de fase das revoluções científicas, em contraposição ao que Laszlo denomina de “fase normal” do mundo, ou melhor dizendo, limitação no âmbito do mesmo paradigma. E segundo esse cientista e filósofo, esse movimento revolucionário atual caminha para a concepção de “um mundo onde a conexão, a coerência e a evolução são valores fundamentais; seria um mundo não fragmentado e nem fragmentável; um mundo integral, uno, uma totalidade completa”.
Somos uma geração que prepara novas gerações assentada em novos paradigmas
Um novo modelo paradigmático deve pressupor a inclusão dos componentes emergentes do conhecimento científico integrado aos vários âmbitos dos conhecimentos, formando uma nova visão e uma inusitada concepção da realidade. Então há uma boa notícia, que diz respeito a novas referências paradigmáticas, já vislumbradas tanto entre pesquisadores inconformados com a limitação dos velhos modelos e forma de compreender o universo como também na sociedade.
Ilhas emergentes com novos conceitos e conhecimentos têm ressoado em várias direções e áreas disciplinares, criando arquipélagos que crescem e se agrupam a cada dia. Se ainda restam dúvidas, seria o caso de identificar, de pesquisar e sentir para onde sopram os novos ventos. Compreender o novo paradigma emergente implica em entender o Universo na sua integralidade inclusiva tanto do indivíduo como da humanidade. É obter respostas sobre como vamos nos organizar nesse mundo novo que se descortina, e sobre qual o sentido último e o propósito autêntico da vida que nos torna coerentes interna e externamente, dignos das benesses da Natureza e do Universo.
Entender os novos paradigmas seria mais que apenas conhecê-los. Seria desenvolver em nós os elementos primordiais, como a ética, a espiritualidade, a generosidade, a cooperação, a sabedoria e a compreensão das Leis Universais, ou seja, sintonizar o comportamento nessa referência que, no conjunto formará a base para salvar nosso Planeta do caos provocado pelo descaso e consumo exacerbado.
Significa também, preservar a integridade da espécie humana e de todos os seres viventes; seria assumir a missão verdadeira do humano que é a de ser parte de uma Consciência Universal e da co-criação de uma obra de dimensões cósmicas.
Que assumamos nosso papel nessa Grande Obra!